Adaptados ao Extremo -
A pirambóia A é um estranho peixe de corpo serpentiforme que consegue viver em águas com baixo oxigênio. O saltador-do-lodo B é um peixe de hábito incomum que gosta de se fixar a raízes aéreas permanecendo em posição vertical. Já o cascudo C é um peixe “durão” que consegue de bom grado suportar águas poluídas consumindo material orgânico.
Imagine um peixe sobreviver em um habitat totalmente degradado como nos trechos metropolitanos da represa Billings ou rio Tietê. Ou então, cansar-se de determinado local e simplesmente mudar de lagoa “andando”. Ou ainda ficar fora d’água agarrado as raízes aéreas dos manguezais. Parece insano, mas não é! O seleto grupo de peixes de água doce que descreveremos nos próximos parágrafos são mesmo muito esquisitos e ao mesmo tempo intrigantes.
A pirambóia (Lepidosiren paradoxa) é um curioso peixe de corpo serpentiforme pertencente à ordem Dipnoi. Consegue sobreviver em águas onde a capacidade de oxigênio é muito escassa. Isso é possível graças à bexiga natatória adaptada para utilizar o oxigênio do ar – uma espécie de pulmão. Assim, a pirambóia sobe com freqüência à superfície. A espécie se alimenta de insetos, crustáceos, vermes, anfíbios, peixes e vegetais. Contudo, quando o alimento torna-se escasso em seu território ela, simplesmente, resolve o problema saindo da água e deslocando-se no solo úmido entre a vegetação com movimentos de serpente até outra lagoa situada nas proximidades. Incrível!
Sê é surpreendente ver como a pirambóia sobrevive, mais intrigante ainda é o modo como o cascudo (Pterygoplichthys aculeatus) faz para conseguir viver ao extremo. Alguns espécimes conseguem habitar nada mais, nada menos, do que o mau-cheiroso rio Tietê no trecho em que corre pela zona metropolitana da capital paulista. Sua presença também já foi assinalada na represa Billings mais propriamente na área em que banha a grande São Paulo. Independentemente do rio ou da represa (ambos infelizmente assassinados no trecho metropolitano devido à grande degradação e acúmulo de lixo), o fato é que o cascudo parece “driblar” as adversidades e viver alimentando-se de algas e de restos de alimentos. Esses peixes são também muito apreciados em aquários por causa do hábito que têm de limpar, ou melhor, comer toda a sujeira que se acumula.
Agora se você já achou fenomenal a artimanha utilizada por cascados e pirambóias, certamente irá se surpreender com o saltador-do-lodo (Periophthalmus koelreuteri). Esses “caras” muito comuns nas zonas equatoriais e tropicais da África ocidental e oriental, incluindo Madagascar e regiões do continente asiático, até a Austrália; gostam mesmo é de se deslocar em terra servindo-se das barbatanas peitorais, sustentadas por tocos de “braços”. Apreciam permanecer na vertical, com a parte anterior do corpo fora da água e a barbatana caudal imersa. Conseguem praticar essa estranha posição, graças, as barbatanas ventrais, unidas de maneira a formar uma ventosa que lhes permite aderir a superfícies lisas sem escorregar. Alimentam-se de vermes, crustáceos e pequenos animais que vivem no lodo. Aliás, não medem esforços quando a regra é conseguir alimento: o que inclui até saltar de um lado para o outro com uma agilidade incomum para um peixe. Esse comportamento só é possível ao saltador-do-lodo por causa da visão excepcional que lhe permite ter noção exata das distâncias.
José Henrique Moskoski
Escritor e Pesquisador de Vida Selvagem
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