Arara canindé |
Arara canindé |
|
|
O tubarão cobra vive entre os 600 e os mil metros de profundidade, alimentando-se de lulas, peixes e outros tubarões. Dado ser quase impossível a um ser humano manter-se em águas tão profundas, o animal é raramente localizado. Contudo, alguns espécimens (mortos) costumam embrulhar-se nas redes de pesca, sobretudo no Oceano Pacífico.
A pirambóia A é um estranho peixe de corpo serpentiforme que consegue viver em águas com baixo oxigênio. O saltador-do-lodo B é um peixe de hábito incomum que gosta de se fixar a raízes aéreas permanecendo em posição vertical. Já o cascudo C é um peixe “durão” que consegue de bom grado suportar águas poluídas consumindo material orgânico.
Imagine um peixe sobreviver em um habitat totalmente degradado como nos trechos metropolitanos da represa Billings ou rio Tietê. Ou então, cansar-se de determinado local e simplesmente mudar de lagoa “andando”. Ou ainda ficar fora d’água agarrado as raízes aéreas dos manguezais. Parece insano, mas não é! O seleto grupo de peixes de água doce que descreveremos nos próximos parágrafos são mesmo muito esquisitos e ao mesmo tempo intrigantes.
A pirambóia (Lepidosiren paradoxa) é um curioso peixe de corpo serpentiforme pertencente à ordem Dipnoi. Consegue sobreviver em águas onde a capacidade de oxigênio é muito escassa. Isso é possível graças à bexiga natatória adaptada para utilizar o oxigênio do ar – uma espécie de pulmão. Assim, a pirambóia sobe com freqüência à superfície. A espécie se alimenta de insetos, crustáceos, vermes, anfíbios, peixes e vegetais. Contudo, quando o alimento torna-se escasso em seu território ela, simplesmente, resolve o problema saindo da água e deslocando-se no solo úmido entre a vegetação com movimentos de serpente até outra lagoa situada nas proximidades. Incrível!
Sê é surpreendente ver como a pirambóia sobrevive, mais intrigante ainda é o modo como o cascudo (Pterygoplichthys aculeatus) faz para conseguir viver ao extremo. Alguns espécimes conseguem habitar nada mais, nada menos, do que o mau-cheiroso rio Tietê no trecho em que corre pela zona metropolitana da capital paulista. Sua presença também já foi assinalada na represa Billings mais propriamente na área em que banha a grande São Paulo. Independentemente do rio ou da represa (ambos infelizmente assassinados no trecho metropolitano devido à grande degradação e acúmulo de lixo), o fato é que o cascudo parece “driblar” as adversidades e viver alimentando-se de algas e de restos de alimentos. Esses peixes são também muito apreciados em aquários por causa do hábito que têm de limpar, ou melhor, comer toda a sujeira que se acumula.
Agora se você já achou fenomenal a artimanha utilizada por cascados e pirambóias, certamente irá se surpreender com o saltador-do-lodo (Periophthalmus koelreuteri). Esses “caras” muito comuns nas zonas equatoriais e tropicais da África ocidental e oriental, incluindo Madagascar e regiões do continente asiático, até a Austrália; gostam mesmo é de se deslocar em terra servindo-se das barbatanas peitorais, sustentadas por tocos de “braços”. Apreciam permanecer na vertical, com a parte anterior do corpo fora da água e a barbatana caudal imersa. Conseguem praticar essa estranha posição, graças, as barbatanas ventrais, unidas de maneira a formar uma ventosa que lhes permite aderir a superfícies lisas sem escorregar. Alimentam-se de vermes, crustáceos e pequenos animais que vivem no lodo. Aliás, não medem esforços quando a regra é conseguir alimento: o que inclui até saltar de um lado para o outro com uma agilidade incomum para um peixe. Esse comportamento só é possível ao saltador-do-lodo por causa da visão excepcional que lhe permite ter noção exata das distâncias.
José Henrique Moskoski
Escritor e Pesquisador de Vida Selvagem
O peixe-víbora-abissal tem dentes enormes e ameaçadores os quais são responsáveis por impedir com que a presa fuja A. A lula-vampiro deve seu nome a sua bizarra aparência que lhe confere um aspecto de morcego do mar B. O peixe-machadinha-abissal tem a conformação do corpo muito semelhante a um machado; a disposição de seus sensíveis olhos tubulares à luz permite-lhe visão binocular C. O diabo-marinho desenvolveu um filamento pescador (ver detalhe) que nada mais é do que uma modificação da barbatana dorsal, que pode ser movimentada, facilitando a apreensão da presa D.
Os peixes abissais são criaturas misteriosas e ao mesmo tempo surpreendentes. Vivendo num ambiente totalmente inóspito esses seres das trevas marinhas são criaturas aparentemente insólitas parecidas saídas de um filme de terror. Adaptados ao extremo esses seres sobrevivem em um ambiente mortal para a maioria das espécies por causa da descomunal pressão da água. Habitando as chamadas fossas abissais (profundidades de até onze quilômetros), os peixes abissais travam diariamente uma verdadeira luta pela sobrevivência onde vale tudo na hora de se conseguir alimento. Alguns deles desenvolveram eficazes filamentos pescadores providos de uma débil luminescência em sua extremidade que atrai peixes incautos para a emboscada. Já outros têm dentro da bôca um tipo de trilha de fotóforos que funciona como chamariz para larvas e outros bichinhos abissais.
Cerca de um quilômetro abaixo da superfície, a escuridão só é rompida pelas fracas luzinhas de bichos luminescentes. Nesse time de “caçadores luminosos” está o diabo-marinho, o peixe-víbora-abissal, o machado-de-prata e a estranha lula-vampiro. Tôdos, sem exceção, não medem mais do que um metro; até porque se tivessem uma maior dimensão fatalmente seriam esmagados pela pressão.
O peixe-víbora-abissal (Chauliodus sloani) é um dos mais eficazes caçadores das trevas marinhas. Medindo pouco mais de 30 cm, esses peixes são dotados de dentes parecidos com agulhas recurvadas que aparentemente metem medo, porém que só têm a função de impedir que a presa atraída pelo engodo bioluminescente fuja de dentro da bôca do predador. Alimenta-se de peixes e crustáceos de alto mar.
O grande caçador das profundezas do mar é, sem dúvida, o diabo-marinho ou peixe-pescador-das-profundezas (Linophryne arborifer). Esses horríveis peixes comem uma grande variedade de peixes e crustáceos, capturando-os com uma falsa isca luminescente que fazem oscilar de um lado para outro em meio à escuridão; atraem assim uma série de pequenas presas que ao aproximarem acabam abocanhadas pelo espertalhão. Os diabos-marinhos têm o estômago elástico, e uma boca enorme, o que lhes permite engolir presas muito maiores do que eles.
Outro esquisito habitante das profundezas é o peixe-machadinha-abissal ou machado-de-prata (Argyropelecus hemigymnus). Horrorosos, esses diminutos peixes têm as conformações de um machado. Vivem a um quilômetro da tona e alimentam-se de pequenos crustáceos e larvas de peixes. Assim como as espécies anteriormente citadas, eles também se valem dos fotóforos para se comunicarem e se alimentarem. Visto de frente, o machado-de-prata mostra acentuada desproporção entre o tamanho dos olhos e a largura do corpo. Só a curvatura é que permite à bôca ter abertura para capturar certas presas.
A lula-vampiro (Vampyroteuthis infernalis) deve seu nome à aparência: a membrana que liga os tentáculos dá-lhe um aspecto de morcego marinho. Trata-se de uma espécie pequena – apenas 30 cm de comprimento -, que habita os fundos oceânicos. Esse molusco é dentre os seres abissais o que realiza as mais impressionantes exibições bioluminescentes envolvendo complexos padrões de cores. Como todas as lulas são dotadas de dez membros – oito braços e dois tentáculos -, com ventosas munidas de um anel córneo denteado.
José Henrique Moskoski
Escritor e Pesquisador de Vida Selvagem
O guepardo possui uma pelagem repleta de malhas cheias e pretas as quais salpicam o fundo amarelo; tal padrão de cores proporciona-lhe eficaz mimetismo em meio à savana A. Nas rápidas perseguições que emprende, a chita usa a cauda para equilibrar-se; além disso, um perspicaz golpe com o esporão da pata dianteira ajuda o felino a desequilibrar a presa B, facilitando o abate da mesma.
O guepardo ou chita (Acinonyx jubatus) é outro integrante do prestigiado grupo de carnívoros especializados. Esse espetacular felino malhado é um dos mais hábeis predadores africanos, capaz de abater uma presa em cada duas tentativas de caça; ou seja, um desempenho melhor do que o de leões e leopardos. Caçando de emboscada ou lançando-se em disparada em direção a presa, a chita normalmente logra êxito no ataque devido à grande velocidade que desenvolve. Esse grande gato de patas compridas e corpo esguio é nada mais nada menos do que o mamífero mais rápido do planeta em curtas distâncias. Para ele basta apenas 2 segundos para estar a uma velocidade de 70 km/h, e com o decorrer da breve maratona essa velocidade alcança até os 110 km/h.
Essa fera das savanas africanas tem uma característica que a distingue de todas as demais espécies de felinos: não possui garras retráteis. Suas unhas não retráteis têm a função de aumentar a firmeza no chão, agindo assim como os cravos dos tênis de um corredor maratonista. Aliada as garras soma-se a longa cauda que assim como um leme também ajuda o animal a manter o equilíbrio durante a corrida.
Com uma dimensão que do focinho a ponta da cauda é de 2,30 m (os maiores exemplares) e o peso de 35 – 70 quilos, o guepardo é um predador especializado no ataque de basicamente duas espécies de gazelas africanas. Para desequilibrá-las na perseguição que emprende o felino usa um tipo de esporão córneo de uma das patas anteriores ou a unha do polegar, que, por nunca tocar no solo, conserva-se afiada. Aí, em plena corrida, basta uma patada para fazer a gazela ir ao chão. Na seqüência, o predador abocanha a vitima na garganta e a mata por asfixia. Com a presa morta, o felino desaba de exaustão. Esse comportamento é explicado porque a temperatura do corpo do animal atinge níveis extremos que levá-o a beira da morte. Por isso é necessário a chita descansar logo após a caçada; descanso este que muitas das vezes custa caro a predadora, já que nesse instante costuma ter sua presa roubada por leões e hienas seus competidores naturais.
Estrategista, o guepardo possui uma técnica quase que infalível para auxiliá-lo na captura da presa. Tal técnica consiste basicamente em lançar-se atrás da presa estando a uma distância inferior a 100 metros. Por conseguinte a perseguição em geral não ultrapassa os 200 m (na realidade, ao fim de 500 metros o felino tem necessidade de fazer uma pausa). Isso acontece porque por ser um caçador de fôlego curto, caso se lance a perseguir cedo demais a presa, ou seja, estando a mais de 200 metros dela, ele correrá grande risco de perdê-la por ter ela tempo de se reunir aos companheiros – o que confunde o predador -, ou que ela abra grande vantagem na corrida frustrando o atacante.
José Henrique Moskoski
Escritor e Pesquisador de Vida Selvagem
O társio apesar de pequenino é um voraz predador noturno capaz de consumir por noite o equivalente a um décimo de seu peso. Infelizmente devido a seus hábitos e aspecto (grandes orelhas e olhos enormes e redondos) é considerado um bicho que traz má sorte A. Em contrapartida o aie-aie que vive exclusivamente na ilha de Madagáscar é tido como um bicho sagrado pelos habitantes locais. Pouco prolífico encontra-se à beira da extinção. Tem por característica o dedo médio da pata dianteira longo e fino (ver no detalhe), o qual utiliza para fisgar as larvas de que se alimenta B. Assim ao detectar por meio da sensível audição o verme se alimentando, rompe com os dentes a casca do tronco, introduz o dedo esquelético e fisga o petisco C.
Em todos os habitats existentes são encontrados animais que se adaptam aos mesmos, tornando-se predadores altamente especializados. Contudo, existem bichos que vão literalmente ao extremo quando a regra é sobreviver, ainda mais se o ambiente em questão é o arbóreo. Dentre os muitos seres que vivem na altura da copa das árvores, dois, em especial, chamam a atenção não só pela agilidade com que se movimentam, mas também por causa da forma como capturam suas presas. Além disso, enquanto um deles é venerado pelos povos da floresta o outro é considerado um animal agourento.
O aie-aie (Daubentonia madagascariensis) é uma curiosa espécie de lêmure que habita exclusivamente as florestas costeiras da ilha de Madagáscar. Tímido e de hábitos estritamente noturno, ele é considerado sagrado pela população local que diz que quando um homem dorme na floresta, os aie-aies fazem um travesseiro de folhas para ele. No entanto, ao acordar, se o travesseiro estiver sob sua cabeça, o indivíduo será muito rico; se estiver embaixo de seus pés, será vítima de um feitiço. Pura lenda local!
Apesar de venerado, o aie-aie é mais um bicho que encabeça a já extensa lista de animais em extinção. Caso não seja freada a derruba da floresta em que habita o desaparecimento da espécie é certo, já que se calcula que hoje o número de aie-aies em vida selvagem não ultrapasse os 50 espécimes. Além disso, o ritmo de reprodução do animal é muito baixo – a fêmea dá à luz de dois em dois anos a um único filhote.
É no momento da alimentação que o aie-aie (ou ai-ai) dá um verdadeiro show. Ele se alimenta principalmente de larvas de insetos que vivem na madeira podre, porém não despreza frutos e favos de mel. Entretanto o que o torna um predador especialista é o modo com que encontra os vermes no interior dos troncos: primeiro ele capta o som da larva se alimentando na madeira; em seguida com a ajuda do esquelético dedo médio ele bate na base do tronco tentando confirmar a posição do petisco. Por fim, localizado com precisão o jantar ele rompe a casca do tronco com os dentes, introduz o estranho dedo e fisga a larva, como um anzol. Depois a traz para fora e a saboreia.
Se o ai-ai é venerado na zona em que vive o mesmo não se pode dizer do társio (Tarsius spectrum). Esse pequeno primata, com cerca de 40 centímetros, dos quais 25 cm pertencem à cauda é considerado um bicho que é capaz de enfeitiçar as pessoas, havendo quem acredite que ele possa comer brasas. Pura bobeira, talvez, reforçada devido aos olhos esbugalhados que possui pertinente a maioria das criaturas da noite.
Extremamente ágil, o társio se estiver em fuga consegue transpor distâncias de até 6 metros por entre os galhos. A espécie se alimenta de gafanhotos, peixes, crustáceos e pequenos répteis. Voraz, numa única noite, o társio é capaz de comer uma quantidade de alimentos correspondente a um décimo do seu peso.
José Henrique Moskoski
Escritor e Pesquisador de Vida Selvagem
Pesquisa comparou problemas de formação das moléculas em roedores.
Ratos-toupeiras, que vivem 30 anos, carregam substâncias mais 'fortes'.
Reinaldo José Lopes Do G1, em São Paulo
O que as criaturinhas feiosas na foto abaixo têm a ensinar para quem quer viver mais e melhor? Talvez muita coisa, de acordo com um estudo publicado na edição desta semana da revista científica americana "PNAS". Ao contrário da maioria dos roedores, os ratos-toupeiras-pelados (Heterocephalus glaber) podem viver até os 30 anos, e o truque por trás da façanha talvez seja a resistência das proteínas de seu organismo.
A conclusão, obtida pela equipe de Rochelle Buffenstein, da Universidade do Texas, veio após uma comparação detalhada entre ratos-toupeiras-pelados e camundongos de laboratório (os quais vivem, no máximo, pouco mais de três anos). O raciocínio é simples: alguma pista importante sobre o envelhecimento deve estar presente no organismo dos ratos-toupeiras pelados, já que o processo, nessa espécie, é muito mais lento do que o que se vê entre os demais roedores.
Um dos fatores apontados como principais para o envelhecimento é o chamado estresse oxidativo, que envolve a ação destruidora de formas muito reativas de oxigênio sobre as células do corpo -- de fato, embora essencial para o organismo, a ação do oxigênio pode ser muito ruim a longo prazo.
O que os pesquisadores viram, no entanto, é que, embora o dano às células dos bichos seja aparentemente igual, a diferença entre os ratos-toupeiras e os camundongos está na resistência ao dano das proteínas dos primeiros. As proteínas dependem profundamente da sua forma tridimensional para cumprir suas funções no organismo, e alterações nesses formatos (como se as proteínas ficassem "desenroladas") acabam sendo um elemento para o declínio do organismo.
Perto do que se vê entre os camundongos, as proteínas dos ratos-toupeiras-pelados resistem a esse tipo de processo, mantendo sua conformação e sua função. Os pesquisadores apostam que essa é uma das razões para a resistência dos bichos ao envelhecimento. Em tese, estratégias parecidas poderiam ser aplicadas em seres humanos interessados em retardar a própria velhice.