domingo, 28 de junho de 2009

Mamíferos Arborícolas

O társio apesar de pequenino é um voraz predador noturno capaz de consumir por noite o equivalente a um décimo de seu peso. Infelizmente devido a seus hábitos e aspecto (grandes orelhas e olhos enormes e redondos) é considerado um bicho que traz má sorte A. Em contrapartida o aie-aie que vive exclusivamente na ilha de Madagáscar é tido como um bicho sagrado pelos habitantes locais. Pouco prolífico encontra-se à beira da extinção. Tem por característica o dedo médio da pata dianteira longo e fino (ver no detalhe), o qual utiliza para fisgar as larvas de que se alimenta B. Assim ao detectar por meio da sensível audição o verme se alimentando, rompe com os dentes a casca do tronco, introduz o dedo esquelético e fisga o petisco C.

Em todos os habitats existentes são encontrados animais que se adaptam aos mesmos, tornando-se predadores altamente especializados. Contudo, existem bichos que vão literalmente ao extremo quando a regra é sobreviver, ainda mais se o ambiente em questão é o arbóreo. Dentre os muitos seres que vivem na altura da copa das árvores, dois, em especial, chamam a atenção não só pela agilidade com que se movimentam, mas também por causa da forma como capturam suas presas. Além disso, enquanto um deles é venerado pelos povos da floresta o outro é considerado um animal agourento.

O aie-aie (Daubentonia madagascariensis) é uma curiosa espécie de lêmure que habita exclusivamente as florestas costeiras da ilha de Madagáscar. Tímido e de hábitos estritamente noturno, ele é considerado sagrado pela população local que diz que quando um homem dorme na floresta, os aie-aies fazem um travesseiro de folhas para ele. No entanto, ao acordar, se o travesseiro estiver sob sua cabeça, o indivíduo será muito rico; se estiver embaixo de seus pés, será vítima de um feitiço. Pura lenda local!

Apesar de venerado, o aie-aie é mais um bicho que encabeça a já extensa lista de animais em extinção. Caso não seja freada a derruba da floresta em que habita o desaparecimento da espécie é certo, já que se calcula que hoje o número de aie-aies em vida selvagem não ultrapasse os 50 espécimes. Além disso, o ritmo de reprodução do animal é muito baixo – a fêmea dá à luz de dois em dois anos a um único filhote.

É no momento da alimentação que o aie-aie (ou ai-ai) dá um verdadeiro show. Ele se alimenta principalmente de larvas de insetos que vivem na madeira podre, porém não despreza frutos e favos de mel. Entretanto o que o torna um predador especialista é o modo com que encontra os vermes no interior dos troncos: primeiro ele capta o som da larva se alimentando na madeira; em seguida com a ajuda do esquelético dedo médio ele bate na base do tronco tentando confirmar a posição do petisco. Por fim, localizado com precisão o jantar ele rompe a casca do tronco com os dentes, introduz o estranho dedo e fisga a larva, como um anzol. Depois a traz para fora e a saboreia.

Se o ai-ai é venerado na zona em que vive o mesmo não se pode dizer do társio (Tarsius spectrum). Esse pequeno primata, com cerca de 40 centímetros, dos quais 25 cm pertencem à cauda é considerado um bicho que é capaz de enfeitiçar as pessoas, havendo quem acredite que ele possa comer brasas. Pura bobeira, talvez, reforçada devido aos olhos esbugalhados que possui pertinente a maioria das criaturas da noite.

Extremamente ágil, o társio se estiver em fuga consegue transpor distâncias de até 6 metros por entre os galhos. A espécie se alimenta de gafanhotos, peixes, crustáceos e pequenos répteis. Voraz, numa única noite, o társio é capaz de comer uma quantidade de alimentos correspondente a um décimo do seu peso.

José Henrique Moskoski

Escritor e Pesquisador de Vida Selvagem

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